sábado, 2 de junho de 2012

H de «He loved beauty that looked kind of destroyed.» (II)

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O belo resulta sempre de um acidente. De uma queda brutal entre hábitos adquiridos e hábitos a adquirir. Derrota, nauseia. Chega a causar horror. Quando o novo hábito for adqurido, o acidente deixará de ser acidente. Far-se-á clássico e perderá a virtude do choque Por isso uma obra nunca é compreendida. É admitida. Se não me engano, a observação pertence a Eugène Delacroix: "Nunca se é compreendido, é-se admitido." Matisse repete com frequência esta frase.

As pessoas que realmente viram o acidente afastam-se, perturbadas, incapazes de dar por ele. As que o não viram, testemunham-no. Exprimem a sua ininteligência através de um pretexto, que é darem importância a si próprias. Mas o acidente permanece na estrada ensanguentado, estupidificado, atroz de solidão, presa das loquacidades e dos relatórios da polícia.


Jean Cocteau, Visão Invisível,
trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Assírio & Alvim, 2005


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