Lupita está a morrer. O coração dela sofreu um enfarte
massivo há exactamente dois dias. Quarenta
e oito horas que caminham tão lentas
que não sabemos se é de um sonho que se trata.
Mas não é, e Lupita esá a morrer lentamente
e corteja a morte desafiante, embora saiba
que ela a vai apanhar, que chegado o momento
terá de se lhe entregar.
Com os pulmões encharcados, edema
pulmonar, chamam-lhe, e uma cardiopatia
de que não recordo agora o apelido, assim
aguarda na unidade de cuidados intensivos,
na sala polivalente, que se apague a dor
que lhe oprime o peito, a sede que não pode
apaziguar e o fim da vida.
Lupita está a morrer e isso é incontrolável, e a única coisa
que hoje sou capaz de fazer é escrever
sobre ela.
Ignacio Escuín Borao,
trad. Manuel de Freitas
in Telhados de Vidro, n.º 15, Lisboa: Averno, 2011
*
SOLANGE F, 2011
Lupita está a morrer desde sempre,
como todos nós. Mas tivemos de o saber hoje,
pela tua voz, poucas horas depois de Amy Winehouse
ter sucumbido ao peso da última canção.
A amizade, por vezes, tem a nitidez de uma lâmina;
ajuda-nos a perceber a noite de que somos feitos,
inscreve na pele exausta um sorriso desarmado.
como todos nós. Mas tivemos de o saber hoje,
pela tua voz, poucas horas depois de Amy Winehouse
ter sucumbido ao peso da última canção.
A amizade, por vezes, tem a nitidez de uma lâmina;
ajuda-nos a perceber a noite de que somos feitos,
inscreve na pele exausta um sorriso desarmado.
Manuel de Freitas, Jukebox 3,
Teatro de Vila Real, 2012
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