COR SÓ
Como, então,
sair daqui, tentar a aventura
de sair deste tempo
de desolação?
O verde claro
que nos traz a alegria e a esperança, não como o do musgo ou o das
garrafas,
cheios de incerteza e de soluços, ou o verde já oxidado
do tempo; nem sequer o da maçã ou o da ondulação
porque não têm olhos nem cintura. Nem os verdes do porto, porque estão
em silêncio; nem aqueles
que nos dizem adeus das estações ou da janela.
Nem o dos quartéis ou o das casulas
porque nunca dão flor. Eu falo do verde da infância
que nunca nos deixa sós, e vive e sonha
e morrerá connosco; ou o desse vestido
que o vento levanta à nossa passagem, e nos olha e aceita
com a sua inocência infantil; não esse outro
que anda desde o amanhecer de roupão
e nos observa com receio; nem esse que está sempre
com os olhos em branco; nem o que se benze
porque não tem fé.
Falo do verde que está só
e que é aventura, do verde dos mares
porque não tem rumo, do que nasce em sonhos
porque não o esquecemos.
Falo do verde
que nos olha nos olhos
e nunca sente medo.
Zurbarán pintava-o
com cachos de uvas e em mesas florescentes. Recolho-o agora
no jogo dessas crianças que estão ali, nas sombras, perto de casa. Toco
esse verde
que encolhe os ombros
porque é inocente, e os seus peitos olham-me
leves como gestos, estremecem
de amor
sob as estrelas.
Diego Jesús Jiménez
in La poesía y el mar/A poesia e o mar,
Madrid: Visor, 1998
[Trad. ID]
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