- Se eu quisesse enlouquecia. Sei uma quantidade enorme de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não sei como arrumar tudo isso. Porquê, sabe?, Uma noite acorda-se às quatro da manhã, num quarto vazio acende-se um cigarrro,... Está a ver? A pequena luz do fósforo ergue de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida,... compreende?... a nossa vida apresenta-se então ali como algo... como um acontecimento excessivo... Tem de se arrumar tudo muito depressa. Há felizmente, o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é aquela maneira subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não?
[...]
Herberto Helder, "Estilo", Os Passos em Volta,
Lisboa: Assírio & Alvim, 2006
Sem comentários:
Enviar um comentário