segunda-feira, 2 de julho de 2012

V de (A) Violência e o Escárnio

Bem sei que é preciso um ar sério para termos êxito na vida e inspirar respeito. E apesar disso custa-me ser sério, a mim, que não tenho em apreço a seriedade.
Vou explicar-me melhor: das coisas sérias, só o ar sério me agrada; quer dizer, meia hora, uma, duas ou três horas de ar sério por dia. É verdade que muitas vezes ando com ele quase um dia inteiro.
Acontece, no entanto, que gosto de brincar, de piadas, da ironia, dos jogos de palavras e fazer partidas.
Mas não pode ser assim.
O trabalho torna-se difícil.
Porque, em geral, temos de privar com pessoas superficiais e ignorantes. Que estão sempre sérias. Carrancas brutalmente sérias como poderão dizer piadas, se as não entendem? Essas carrancas tão sérias são um reflexo. Para o seu analfabetismo e a sua estupidez todas as coisas são problemas e dificuldades; e, tal como as vacas e as ovelhas (os animais têm sempre uma expressão séria), mostram feições impregnadas de seriedade. De um modo geral a pessoa espirituosa é desprezada, na melhor das hipóteses não é considerada e não inspira muita confiança! Por isso me preocupo em apresentar aos outros um ar sério. Já reparei que facilita bastante os meus próprios problemas. Interiormente, porém, divirto-me muito, e rio.


Konstandinos Kavafis, Páginas Íntimas (Hiena)


*


[...]
Entretanto, como uma banana e tenho vontade de rir (o que é bom sinal) porque sei, através do Musil, que é preciso viver em humor e desespero.


João César Monteiro, Uma semana noutra cidade (&etc)

3 comentários:

je suis...noir disse...

Está diferente, lá em cima... Mas igualmente bonito!

je suis...noir disse...

Ps: não acho a imagem "tenebrosa"... pelo contrário!

ID disse...

Eu também não acho :)