Amava-o pela sua sombra, mais do que por ele próprio, e quando o homem - enciumado daquele hábito - lhe viarava as costas, ela, brincalhona, quase lasciva, corria atrás da sombra e, muito excitada, dava palmadas no ar. Foi uma história de amor na esperança, e chegou mesmo a deitar-se de tal modo que a sombra teve de passar sobre ela, e sentiu um frio nas entranhas. A partir daí nunca soube se o filho era dele ou da sombra.
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Nunca verás um amanhecer tão bonito como ela.
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Para quem se veste a mulher do cego?, perguntou o filósofo, em busca de um pretexto para um dicurso impossível: Para a noite e o tacto, respondeu o cego, que era um néscio insuportável.
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Amavam-se porque tinham vocação de corpo.
Rafael Pérez Estrada
[Trad. ID]
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