segunda-feira, 16 de julho de 2012

POEMA 1000103




A menina que brinca acordada com a sua inesperada inocência
a desconhecida inocência em forma de arco
uma moeda coberta de ninhos bordados,
um piano esvaindo-se em sangue no meio das chamas
sem ter conhecido a transparência das suas mãos
sem ter sequer protestado contra os espelhos brancos,
sem usar o habitual fato de alumínio,
minhas incompletas incompreensões repetidas incansavelmente
cortem as vossas mãos, cortem os vossos olhos,
as suas vivências tranquilas,
a humidade que cresce até ao medo,
a jovem despida que nunca viu o seu retrato
a jovem que escuta de 2 a 4 a sua inconsciência
o anjo, o belo anjo, que ofereceu as suas plumas,
subamos até ao país desalojado pelas abelhas
agoniza sempre a diminuta neve,
segui, segui, senhores pássaros de leitura.


Enrique Goméz-Correa
in Total n.º1, Janeiro de 1936
(revista dirigida por Vicente Huidobro)

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