domingo, 15 de julho de 2012

S de Solidão (ou C de Comunidade) XLVI

O LOBO FALA AOS SEUS CÃES



Vejam-me sou incrível como a noite
Talvez porque até ao meu cérebro
Desceram hienas em larva


Conservaram-se
Nessas tristes histórias da infância
Com a fúria do homem que fez
Do orgulho o ar mais respirável


Estamos perdidos com os amigos
Na mesma podridão
Rimos
Abandonámos as nossas noivas
Num festim de cães degolados
Nuvens do amor, nuvens da noite
Devolvei-me às fáculas ardentes dos meus sonhos
Para não ouvir o ruído
Da maldição que sobe aos lábios
E ser um pouco mais negro do que a calúnia.



Enrique Goméz-Correa, Cataclismo en los ojos, 1936
[Trad. ID]

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