sábado, 6 de outubro de 2012

E de Espera (XIV)

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Às vezes não há nada a dizer. Ou então há, mas o momento não é oportuno. As pausas e os tempos mortos são tão importantes como os períodos de produção. A curiosidade contemplativa e o silêncio ajudam-te a manter os olhos e os ouvidos abertos, para se que vá filtrando por eles o material. A escrita é uma forma de olhar e uma forma de escutar. A escrita é uma forma de estar no mundo. Ou seja: uma forma de viver, de respirar. E de esperar.
Vale tudo para alimentar a máquina. Um escritor está sempre a trabalhar. Tem os seus registos, os seus arquivos, o seu processo mental. Há coisas que usará conscientemente, e outras que pensa ter esquecido, mas que irão aflorar, mais cedo ou mais tarde, no que escrever. O escritor não sabe o que é o desperdício. A sua existência é um exercício permanente de armazenamento e reciclagem. Nada nem ninguém se pode considerar perdido ou a salvo depois de entrar em contacto com ele. Para o escritor não existe lixo. Só existe combustível.
 
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Roger Wolfe
 

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