A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias de intenção
de ser perderem que a sua perda não é uma calamidade.
Perder qualquer coisa todos dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.
Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.
Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.
Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.
- Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.
Elisabeth Bishop
in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop,
trad. de Maria de Lourdes Guimarães,
Porto: Campo das Letras, 1999
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