quarta-feira, 24 de outubro de 2012

U de "Uma arte"


A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias de intenção
de ser perderem que a sua perda não é uma calamidade.

Perder qualquer coisa todos dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar. 

Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava 
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar. 

Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.

- Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade. 


Elisabeth Bishop
in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop
trad. de Maria de Lourdes Guimarães,
Porto: Campo das Letras, 1999

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