domingo, 9 de dezembro de 2012

E de Espera - XXVI b

"[...] A poesia, tal como a entendo, é um encontro firme e inaugural - connosco, mas também com o mundo. Pouco importa, no fundo, se esse encontro único e irrepetível assenta num grito, num murmúrio ou numa exclamação aparentemente despropositada. Serena ou agressiva, na forma como chega até nós, a poesia só me interessa se causa desconforto, se consegue interromper ou questionar o processo de morte e apagamento a que nos fomos acomodando. Sim, ela fulgura - no terror do meio-dia ou no escuro mais escuro da noite. Não importa assim tanto como, ou com que palavras - desde que fulgure, sozinha. Talvez a poesia, em rigor, não sirva para nada; mas já me salvou muitas vezes a vida. Isto que vou perder."

 
Manuel de Freitas, Cólofon
Lisboa: Fahrenheit 451, 2012
 

2 comentários:

Odracir disse...

Completamente de acordo.

CCF disse...

Olha aí está uma coisa verdadeiramente importante!
~CC~