ESTRADA VERMELHA
Para a Inês Dias e a Maria de Jesus
Não se vai a Sintra; deve-se
ficar lá, de preferência no Lawrence's
e num quarto virado para o bosque.
Esta tarde, porém, regressámos.
Depois das francesinhas
e de vários holocaustos.
Não sei se vem daí a tristeza
que se me colou aos ossos,
indiferente aos projectos que traçámos.
Como se ainda houvesse salvação
nas letras, pelas letras,
e pudéssemos exterminar o nojo.
Não é provável que Gervásia,
a felina estrábica,
consiga sobreviver à leucemia.
O dia findava, morria connosco,
e, em tons de rosa estridente,
um cão celeste abanava a cauda.
Varria, para sempre, impérios e constelações.
Manuel de Freitas
in Grisu n.º1, Guimarães, Novembro de 2012
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