[...] Já as minhas linhas a lápis andam bastante fracas — mas o meu pensamento ainda está tão nu e tão terrivelmente sensível — que tenho medo de lhe tocar. O meu coração está perto de si, pelo menos o que resta dele! — e é tão pouco, que prefiro deixar-lho em depósito em vez de o pôr a uso, com medo de o esgotar: é, pois, o meu bom e velho corpo de gato que se roça na sua poltrona, na esperança de lhe arrancar algumas centelhas. — Compreende-me o suficiente, amigo, para não me pedir mais do que isso.
Também não encontrei nada, digno de lhe ser repetido, na inspecção que faço todas as segundas-feiras dos jornais e das revistas — excepto, na Revue des deux mondes de 15 de Maio, um artigo de Montégut em cujas quatro ou cinco primeiras belas páginas pude sentir e ver com emoção o meu livro. Ele fala do Poeta moderno, do mais recente, que, no fundo, "é acima de tudo um crítico". É exactamente isso que constato em mim — só consegui criar a minha Obra por eliminação, e qualquer verdade apreendida nascia apenas da perda de uma impressão que, depois de cintilar, se consumira e me permitia, graças às trevas que libertava, avançar mais profundamente na sensação das Trevas Absolutas. A Destruição foi a minha Beatriz.
[…]
Stéphane Mallarmé, "Carta a Eugène Lefébure", 17 de Maio de 1867
[Via Luis Manuel Gaspar /
Trad. ID]
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