quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

INELUTÁVEL



Tarde sombria como um bolso vazio. No fundo
do bolso um buraco doce, penugento. Por lá
passas um dedo em segredo, tocas a própria coxa
como se tocasses outro corpo, maior, estranho,
profundo - o corpo da noite ou da tua morte.
Por esse buraco caem as moedas todas,
mesmo as de oiro, cunhadas com a efígie
esplêndida e jovem do Príncipe dos Lírios.


Yannis Ritsos traduzido por Eugénio de Andrade
in Trocar de Rosa, Lisboa: Na Regra do Jogo, 1980

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