Foi fácil entendermos que depois
com dois cafés e um cigarro
a conversa sobreviveria. Que
dos dedos cor de azeite na toalha
qualquer verso depois recordaria
a curvatura firma da nuca,
o fim de tarde, o quintal, a alvenaria.
Assim percebemos que a beleza
é uma coisa sem nome, uma questão
inteiramente vazia e nos arranca
de milagres mortos, vai com as cidades
por planícies sem rumo e desconhecida
na sua tinta de vozes que nos dizem
não haver quem sinta nem haver a vida.
[...]
Joaquim Manuel Magalhães, A poeira levada pelo vento, Lisboa: Editorial Presença, 1993
[Poema reencontrado na leitura de Silvina Rodrigues Lopes, Literatura, Defesa do Atrito,
Belo Horizonte: Chão da Feira, 2012]
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