18/01/12
domingo, 24 de janeiro de 2021
S de "Sempre disse tais coisas esperançad@ na vulcanologia" (XII)
A ÁRVORE DAS RAÍZES
a minha infância tem uma árvore
assombrosa. é uma bela história de amor
entre as nossas mãos pequeninas
e aqueles seus braços enormes, bravos e
loucos como o riso das mães,
que faziam abrandar o medo e a tarde.
oito, nove, dez: virávamo-nos à procura dos outros
pelo labirinto de grutas cavado nas raízes,
ao abrigo do vento e da solidão que não tardaria
a descobrir o nosso esconderijo.
ao parar, há dias, na Deslocação do Labirinto,
imaginei que talvez Vieira da Silva
tivesse sonhado a minha árvore.
ou vice-versa. dois seres mágicos do mesmo elemento
engendrando-se um ao outro nas raízes do mundo:
azuis e verdes com riscos ferozes
onde a vista se afunda para depois
nos libertar. assim é, entre o céu da memória
e a erva húmida destes dias,
a árvore da minha infância.
Renata Correia Botelho, Small Song,
2.ª ed., Lisboa: Alambique, 2015
quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
M de 'Memory of a bird' (III)
ROUXINOL
Só para te ouvir cantar
E foi doce e foi bom
E o amor estava ainda a despontar
Despeço‑me de ti, meu rouxinol
Foi há muito que te encontrei
Falha agora o teu belo canto
E a floresta fecha‑se à tua volta
O sol põe‑se a coberto de um véu
Era agora que me chamavas
Por isso descansa em paz, meu rouxinol
Sob o teu ramo de azevinho
Despeço‑me de ti, meu rouxinol
Vivia para estar ao teu lado
Continuas a cantar noutro sítio
Mas deixei de poder ouvir ‑te
Leonard Cohen, A Chama,
trad. de Inês Dias, Lisboa, Relógio D'Água, 2019
[ID, 'Pelos caminhos da manhã', 12/01/020]
domingo, 10 de janeiro de 2021
P de "Pelos caminhos da manhã" (VIII)
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