domingo, 19 de fevereiro de 2023

L de Lar


MY HOUSE, I SAY 


My house, I say.  
But hark to the sunny doves 
That make my roof the arena of their loves, 
That gyre about the gable all day long 
And fill the chimneys with their murmurous song: 
Our house, they say; and mine, the cat declares 
And spreads his golden fleece upon the chairs; 
And mine the dog, and rises stiff with wrath 
If any alien foot profane the path. 
So, too, the buck that trimmed my terraces, 
Our whilom gardener, called the garden his; 
Who now, deposed, surveys my plain abode 
And his late kingdom, only from the road.

 
Robert Louis Stevenson

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

S de "Sempre disse tais coisas esperançad@ na vulcanologia" (XII)


A ÁRVORE DAS RAÍZES


a minha infância tem uma árvore
assombrosa. é uma bela história de amor
entre as nossas mãos pequeninas
e aqueles seus braços enormes, bravos e
loucos como o riso das mães,
que faziam abrandar o medo e a tarde.

oito, nove, dez: virávamo-nos à procura dos outros
pelo labirinto de grutas cavado nas raízes,
ao abrigo do vento e da solidão que não tardaria
a descobrir o nosso esconderijo.

ao parar, há dias, na Deslocação do Labirinto,
imaginei que talvez Vieira da Silva
tivesse sonhado a minha árvore.
ou vice-versa. dois seres mágicos do mesmo elemento
engendrando-se um ao outro nas raízes do mundo:

azuis e verdes com riscos ferozes
onde a vista se afunda para depois
nos libertar. assim é, entre o céu da memória
e a erva húmida destes dias,
a árvore da minha infância.


Renata Correia Botelho, Small Song,
2.ª ed., Lisboa: Alambique, 2015