Arquivo de Cabeceira
domingo, 9 de novembro de 2025
domingo, 2 de novembro de 2025
L de Lost in translation
*
aqui compostos/impressos por Luís Henriques e Manuel Diogo
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
C de "Canção diante de uma porta fechada"
sábado, 4 de outubro de 2025
P de (Dois Anos de) Pássaros

"On the set of the film The Mirror, Andrey Tarkovsky included himself in one scene, lying in a hospital bed and holding a tiny bird on his right hand. And this is what happened to him at the end of his life: in his sick-room in Paris, the room where he died, a little bird would fly every morning through the open window and come to light on him."
S.T.T.L.
terça-feira, 30 de setembro de 2025
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
T de "The days grow short" (XI)
6.
Mas possa eu, Senhor, não perder nunca
os olhos com que ao frio me enamoro
das folhas que se movem casuais
ao vento outonal das alamedas.
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
sábado, 16 de agosto de 2025
P de Poética (LXIII)
And if you missed a day, there was always the next
- LOUISE GLÜCK -
*
Tous les matins du monde sont sans retour.
- PASCAL QUIGNARD
Quando conheci a Morte
o verão era um tigre
a respirar junto do meu pescoço.
E a Morte estava embriagada de abelhas;
a Morte era metálica.
À espera entre folhas verdes
a Morte usava o vermelho da raposa;
as abelhas como pepitas de ouro
fervilhavam no coração da Morte.
O sangue da Morte era negro.
Sobressaltada, regressei
a um súbito isolamento.
Agora já sei a cor da estação da Morte:
ouro, vermelho e verde.
A língua da Morte é negra.
- Rikki Ducornet
[Trad. ID]
sexta-feira, 8 de agosto de 2025
P de "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera" (V)
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
L de (A) Luz da Sombra (L)
(Antígona, 2025)
[ID | 'Pelos caminhos da manhã', 025]
terça-feira, 5 de agosto de 2025
C de Começar o dia com um livro novo (XIV)
sexta-feira, 25 de julho de 2025
quinta-feira, 17 de julho de 2025
sexta-feira, 4 de julho de 2025
S de S.T.T.L.
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura
na usura,
na política,
no comércio,
na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
trémulos objectos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável,
apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, que não, que ao menos não me encontrasse a paixão e eu me perdesse nela
a paixão grega
- Herberto Helder
in A faca não corta o fogo (Assírio & Alvim)
sábado, 28 de junho de 2025
C de Começar o dia com um livro novo (LVI)
segunda-feira, 23 de junho de 2025
S de São João
sinto arderem à margem
de um mar escuro -
e ao longo dos portos acenderem-se piras
de coisas velhas,
de algas e barcos
naufragados.
E em mim nada que possa
ser queimado,
mas cada hora da minha vida
ainda - com o seu peso indestrutível
presente -
no coração extinto da noite
me segue.
sábado, 21 de junho de 2025
I de Infância (V)
"[...]
Olhamos para o mundo uma vez, na infância.
O resto é memória."
Louise Glück, Meadowlands,
trad. de Inês Dias [Relógio D'Água, 2022]
I de Infância (IV)
"[...]
Olhamos para o mundo uma vez, na infância.
O resto é memória."
Louise Glück, Meadowlands,
trad. de Inês Dias [Relógio D'Água, 2022]
[ID, 30/06/022]
terça-feira, 10 de junho de 2025
domingo, 4 de maio de 2025
P de Poética (LII)
Gastam-se por vezes num choro muito fino,
quase impraticável. Querem ser ouvidos,
e vá de escreverem tal e tal desgraça.
Mas estão desempregados? morreu-lhes a mãe?
a chuva entra pelas solas com buracos?
Ou vão mover o mundo, as azenhas do mundo?
Se o teu olhar já não poisa em mim,
paciência, não morrerei por isso.
Iuri Gagárine lá foi pelo céu acima.
Aliás a vida tem recursos admiráveis.
"Há um futuro à espera", porque não também
uma outra mulher que no futuro me espera?
Os amantes esquecem: é que alguma coisa
os leva (recônditamente) a esquecer.
A primavera volta, as aves passam em bandos;
e a mesma terra, quando treme, treme
cheia de naturalidade. Tudo isto
fará a delícia e o horror dos nossos filhos.
Os poetas, que se lamentam de mais,
acenam com as suas dores particulares
a quem passa, que passa por outras razões.
Querem dedos suaves na testa, um calor
de lábios nas pálpebras molhadas.
São poetas, isto é, seres em aflição.
Campainhas tocando ao mais pequeno vento.
Querem ser ouvidos, consolados, tapados do frio.
Temem o desprezo, a desolação ambiente,
os cães que ladram muito alto muitas vezes.
Mas o Maio volta. É bom saber
que num dia qualquer de um destes anos
vamos todos rir e dar as mãos,
troçar do domador se ainda houver.
Os amantes amam: são coisas
da primavera.
Os poetas consertam-se: são coisas
da sua mecânica misteriosa.
Portanto não morri. Eu tinha grandes naus
aparelhadas na ribeira do coração.
Portanto não morri. Caíram árvores,
camponeses gritavam enquanto a chuva
mordia raivosamente as coisas do mundo.
"Paciência", dizia eu, "não morrerei por isso".
E esperava o sândalo e a canela.
quinta-feira, 1 de maio de 2025
S de Sete rosas mais tarde
Pertencem-lhe a sua folha e o seu espinho.
A esse põe ela a luz no prato,
com o seu sopro enche-lhe os copos,
só para ele sussurram as sombras do amor.
Quem arranca de noite o coração do peito e o arremessa ao alto:
não falha o alvo,
apedreja a pedra,
a esse bate-lhe o sangue fora do relógio,
o tempo faz-lhe soar na mão a sua hora:
pode brincar com bolas mais bonitas
e falar de ti e de mim.
sábado, 19 de abril de 2025
P de Páscoa Feliz (II)
"Ajoelhada no relvado húmido e perfumado do parque da aldeia, Clara Morrow escondeu cuidadosamente o ovo de Páscoa e pensou em ressuscitar os mortos, o que tencionava fazer logo após o jantar. [...]"
trad. Inês Dias, Lisboa: Averno, 2011
sexta-feira, 18 de abril de 2025
C de "(O) começo de um livro..." - ou de uma editora (III)
Regressar a casa sozinho e noite dentro
quando o silêncio das árvores da rua se acentua
e os poemas que nunca hás-de fazer te atingem
com o fragor de telhas caídas de um telhado
mesmo em cima da tua cabeça - tanta fragilidade
E por fim entrar em casa, ordeiramente
A essa hora todo e qualquer remorso
é coisa de somenos, importante sim
para dormir, para brincar, só a morte
Ursinho de peluche no travesseiro
da cama - a tua morte
com capa de Luís Henriques e arranjo gráfico de Inês Mateus
sábado, 15 de março de 2025
P de PELOS CAMINHOS DA MANHÃ
para a Inês
Os do teu tempo, coitados,
não vão achar bem o título.
Pudessem ao menos perceber
que não existe tempo
ou que "real" (por exemplo)
é a navalha firme
que se fechará em breve,
anulando os gestos todos.
Quero, na verdade, que se
lixem. Acordei com esse verso,
abri a porta ao nevoeiro (é uma
observação meteorológica)
e seguimos, em silêncio,
até ao extremo da lezíria.
Pássaros que nunca vira
insistiram em acompanhar-nos,
pela estrada de areia breve
onde tantas vezes caí de bicicleta.
Quase gostei de estar vivo -
vivo, ao teu lado, naquela manhã de Março.
Pássaros, uma papoila isolada,
a sombra do mais castanho dos cavalos
diziam-me que a morte
se calava só para que te pudesse ver.
Enquanto as nuvens, já sem cor, passavam.
Manuel de Freitas, Terra Sem Coroa (Teatro de Vila Real, 2007)
E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XXXV)
N de "Na casa de Julho e Agosto" (IV)
NESTE SILÊNCIO
De bruços sobre a areia, descanso as pálpebras no mar. A minha ociosidade é um peixe de prata adormecido nas ondas, um barco sem dono ancorado na doca. E hei-de morrer assim contigo, companheira ou ilusão do meu cansaço, porque a verdade que trouxemos é um trapézio vasio num circo em ruínas, uma flor no trapézio e muitos gatos a assistir até ao dia nunca mais do horizonte livre.
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
M de Merry Little Christmas (II)
"[...]
No Natal, uma amiga mandou-me um cartão de boas festas da Unicef com um Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Tenho-o em exposição no meu quarto e, quando quero rezar, olho para ele. Mas não sou contemporânea de Fra Angelico. Não posso tomar café e tagarelar com ele nos cafés como posso fazer com a amiga que me enviou o anjo dele pelo Correio. Por isso o Anjo da Anunciação de Fra Angelico, que é tão bonito, pode também ser doloroso. Fra Angelico já morreu. E não é a beleza do anjo de Fra Angelico que me garante que Fra Angelico ressuscitará.
Um poema de Rimbaud está cheio de violência. Há muita beleza na expressão dessa violência. E isto é terrível. Preferia que Rimbaud não estivesse ferido a ponto de escrever daquela maneira? Preferia. Mas não posso dizer isto assim.
A arte é feita para construir a paz. Não é um esgrimir no vazio. Não pode ser. Olho para o Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Parece-me belíssimo. É vermelho e dourado. É verde e azul. Mas, ao escrever assim, parece-me que estou a evocar o poema de Rimbaud intitulado «Voyelles». A arte é um modo de lidar com a ausência. E por isso é tão preciosa e tão perigosa. Nunca é a alegria da presença."
- ADÍLIA LOPES (1960-2024)
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
A de Amor
CONTA-MO OUTRA VEZ
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me, uma vez mais, que o par
do conto foi feliz até à morte,
que ela não lhe foi infiel, que ele nem sequer
pensou em enganá-la. E não te esqueças
de que, apesar do tempo e dos problemas,
continuavam cada noite a beijar-se.
Conta-mo mil vezes, se faz favor:
é a história mais bela que conheço.
com sel. e trad. de Inês Dias, desenhos de Débora Figueiredo,
e arranjo gráfico de Pedro Santos, Lisboa, Averno, 2018










