sexta-feira, 30 de setembro de 2011

B de Biorritmo (CIX)



E na banda sonora de um filme de há demasiados anos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

M de Memória


Hoje, a caminho do trabalho.


F de Fazer Fotografia - XIII c ou XXXV b

[...] porque é que fotografamos: o que é que queremos apreender?
O que é que tentamos salvar? O que é que nos foge
ou, em última análise, não é fotografável? [...]


AQUI

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

T de (Uma) teoria de pássaros (V)

SAPPORO CITY


I transformed my seething sadness
Into blue shreds of myth
In the distant sloping ashen light
And the trembling of the goods train
I scattered them with all my might
By the elms on Pioneer Memorial Square
But the little birds didn't pick at them


Kenji Miyazawa

A de Altar (III)


Lisboa / Setembro 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

T de (Uma) teoria de pássaros (IV)

BATTEMENT

Pas d'aile, pas d'oiseau, pas de vent, mais la nuit,
Rien que le battement d'une absence de bruit.


- Eugène Guillevic

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

A de Amor (XVII)

D de Davam grandes passeios aos domingos (II)

DOMINGO


Acordámos com o céu encostado
no ouvido, nuvens que ladravam e mordiam
o domingo, a partir do alto das montanhas.
E aqui continuamos, agarrados a nós próprios,
como dois miúdos que não têm para onde ir.
Estamos presos ao sofá unicamente porque sim,
nem tristes nem alegres, metidos no roupão
e nos chinelos, pequenos cadeados de trazer
por casa. O mundo, esse, vem buscar-nos
amanhã. Bate-nos à porta, à hora do costume,
palitando os dentes com a ponta da navalha.


Vítor Nogueira
in Piolho 006

sábado, 24 de setembro de 2011

P de (Uma) teoria de pássaros (III)


Charles Courtney Curran, "In the Luxembourg (Garden)", 1889

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

B de Biorritmo (CVII)



The boy with the thorn in his side
Behind the hatred there lies
A murderous desire for love
How can they look into my eyes
And still they don't believe me ?
How can they hear me say those words
Still they don't believe me ?
And if they don't believe me now
Will they ever believe me ?
And if they don't believe me now
Will they ever, they ever, believe me ?

The boy with the thorn in his side
Behind the hatred there lies
A plundering desire for love
How can they see the Love in our eyes
And still they don't believe us ?
And after all this time
They don't want to believe us
And if they don't believe us now
Will they ever believe us ?
And when you want to Live
How do you start ?
Where do you go ?
Who do you need to know ?

A de "até que os fios do coração" (IV)

MY HEART NOW


My heart now
Is a warm sad saline lake
A pitch black lepidodendron forest stretching
Nearly five hundred miles along its shore
Must I then
Be made to sleep
Without so much as stirring
Till the reptile takes on the form of a bird?


Kenji Miyazawa, Strong in the rain
(Bloodaxe Books)

E de Espinhas para um gato - X b


António Carneiro, "Menina com Gato (Maria)", 1900

[Obrigada, Luis]

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

E de Espinhas para um gato (X)


Gwen John, "Girl with cat", 1918

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

R de Regresso ao Trabalho (XXI)



Todo dia ela faz
Tudo sempre igual
Me sacode
Às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca
De hortelã...

Todo dia ela diz
Que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz
Toda mulher
Diz que está me esperando
Pr'o jantar
E me beija com a boca
De café...


Todo dia eu só penso
Em poder parar
Meio-dia eu só penso
Em dizer não
Depois penso na vida
Prá levar
E me calo com a boca
De feijão...


Seis da tarde
Como era de se esperar
Ela pega
E me espera no portão
Diz que está muito louca
Prá beijar
E me beija com a boca
De paixão...


Toda noite ela diz
Pr'eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

M de Museu Imaginário (XXIII)


Antonello da Messina, "Virgem da Anunciação", 1475

P de "Portugal não é um país pequeno" (VIII)

IX



no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e o país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história do amor só até ao pescoço

e o país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora aí está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)

diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
É relativamente queda de água
e já agora há muito não é de outra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato


Mário Cesariny, "Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano"
in Manual de Prestidigitação, Lisboa: Assírio & Alvim, 1981

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

M de Medo (V)


Os pavões do Castelo de S. Jorge / 1954

P de Poética (VIII)

Não fugir. Suster o peso da hora
Sem palavras minhas e sem os sonhos,
Fáceis, e sem as outras falsidades.
Numa espécie de morte mais terrível
Ser de mim todo despojado, ser
Abandonado aos pés como um vestido.
Sem pressa atravessar a asfixia.
Não vergar. Suster o peso da hora
Até soltar sua canção intacta.

CRISTOVAM PAVIA

A de "Ali estamos todos inteiros." (II)

Relembrou-se ontem, baixinho,
mesmo a quem nunca teve um pássaro amigo entre as mãos:


O amor
é uma ave a tremer
nas mãos duma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

- Eugénio de Andrade


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

T de Tempo Sem Tempo (IV)


São Miguel / Agosto 2011

P de Poética (VII)

4

Músculos tensos, grito parado, a inquirição prossegue por entre camadas de angústica cerrada. Fura, brita, escava, alonga túneis por onde avança o corpo cercado. Por vezes tem a espessura de montanhas, muros sobre muros que não acabam. Outras abre-se inesperadamente em naves onde o eco é mais largo e o som ampliado vibra a ilusão da interminável viagem. Uma a uma, as palavras emergem da pedra informe, brilham contra o aço quente das brocas. Agarra-as com as mãos feridas, confunde-as com o tacto, mistura-as com o sangue, enquanto a tinta regista a negro o seu traçado. Há quem lhe chame poesia. Eu só lhe posso chamar combate. *


Jorge Roque in Telhados de Vidro n.º15,
Lisboa: Averno, Junho 2011

* V de Vida

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

E de Espera (XVII)

O QUE PEÇO AO DIA


O que peço ao dia já não é
que se cumpram os sonhos, que me entregue
cumpridos os desejos de outros dias,
porque enfim aprendi que os sonhos
são como as asas de um insecto,
quando lhes tocamos desfazem-se;
quando um sonho se realiza torna-se outra coisa
que não ajuda a voar.
O que peço ao dia começa a ser, aliás,
mais difícil ainda de alcançar
que sonhos realizados, porque exige
a antiga fé nos sonhos.
O que peço ao dia é simplesmente
um pouco de esperança, essa forma modesta
de felicidade.


Vicente Gallego
in El sueño verdadero, Visor

[Como sempre, retirado daqui]

T de Tratado de Pedagogia (XXXVII)

Ensinar/Aprender o contrário:


[Fotografia de Marta Chaves]

R de Regresso ao Trabalho (XX)




Get up in the morning take the covers from my bed
There's sunlight in my eyes playing tricks with my head
Work like a dog on the job every day
Trying to earn some money so I can go and play


In the night time
I said night time
It's the night time
Oh that's the right time
I want to be with you in the night time

I come home from work now I'm tired and I'm beat
Trying to make some supper but I can't have any heat
I jump in the shower wash the world off my back
I'm going to get my baby that's a natural fact


[...]

Move a little closer let me whisper in your ear
Just turn your radio up and you'll hear what I'm saying
Half a million people with nothing to say
Running round in circles they're just living their days
Stick with me baby, I'll show you how to fly
We'll make some real music, watch the world go by

[...]

terça-feira, 13 de setembro de 2011

B de (A) Barreira Invisível

David Teles Pereira,
in Jornal de Notícias, 09/09/11
(conversa editada por Susana Moreira Marques)

L de (A) Luz da Sombra (XIII)


São Miguel, 17/08/11

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

E de Espinhas para um gato (IX)


BALTHUS
"Chat au miroir III" (1989-94)

domingo, 11 de setembro de 2011

S de Sob Céus Estranhos *



Shaun Tan, A Chegada, 2006

* O título do post é um livro de Ilse Losa.
Mas também poderia ser - e provavelmente virá a ser, ao longo de mais um ano -
"T de Tratado de Pedagogia".

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

E de Em Carne Viva

ENVELOPE PARDO


O doente não é apenas seu corpo
mas as paredes que o cercam
a mosca que nelas pousa
São os vincos no lençol
a luz coada pela cortina
a mão que se lava
O doente é o gato no jardim
o vendedor de ervas
a prece escorrendo longe
E também o lanche antes da visita
as cifras no prontuário
o nome e o preço dos remédios
a cor da tinta
com que se assina a receita
É por fim a chuva insistente
a televisão desligada
o jornal se acumulando
a comida que sobra na geladeira
os óculos ociosos
a dentadura entregue num envelope pardo


- Fabio Weintraub, Baque

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

P de (Os) Pássaros em Volta (XXI)


Vila Franca do Campo, 16/08/11


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

B de Biorritmo (CVI)

A minha 2ª versão preferida:

terça-feira, 6 de setembro de 2011

F de Flor Suficiente (VIII)




Ponta Delgada, 10/08/11

C de "Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." (V)

EM HORNBAEK, COM PESSANHA



Nunca pensei que um dia,
a Norte de tudo, viéssemos
apanhar sob a água plana
conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos.
Mas foi o que aconteceu em Hornbaek.

Não falarei do vento que
alisava as dunas, do pátio sem
defeito do restaurante Olivia
ou do pequeno comboio
que dividia a meio a floresta.

Só me interessa, hoje,
o que pude sentir nas minhas
e nas tuas mãos: conchinhas
da mais alva porcelana,
seixos tenuemente cor-de-rosa.

Enquanto, esquecidos de Kroyer,
percorríamos juntos a distância sem fim.


Manuel de Freitas, Brynt Kobolt,
Lisboa: Averno, Abril de 2008

H de História da Arte


[Obrigada, David]

A de "Ali estamos todos inteiros."


O título do post é a última frase de um belíssimo texto de Mariana Pinto dos Santos. A fotografia é de Rui Miguel Ribeiro.
A luz é de todos os amigos que me ofereceram mais uma noite
em que me senti como se voasse. Obrigada.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

S de S.T.T.L.

LANDOWSKA, 1947


para o José Carlos de Almeida Gonçalves


Não tenho o disco, nem é isso,
certamente, o que mais importa.
Na sua casa em desordem
ouvi pela primeira vez o jovem
e depois menos jovem canadiano,
enquanto os gatos chegavam
e tinham quase o mesmo nome.
O Sérgio, no quarto ao lado, morria
sem saber, após ter fotografado
o que nem sonhamos arte.

Por ela, a de pequenas mãos,
chamou Vanda à primeira filha.
Sente agora mais próximo
o Inverno. Cuida dos cavalos,
sorri, deita-se à sombra dos livros.
Mas os gatos – os que chegavam
e partiam – diriam melhor a alegria,
a tristeza grande (Capriccio sopra
la lontananza) que insiste
em afastar-nos de uma lágrima comum.



Manuel de Freitas, Büchlein für Johann Sebastian Bach,
Lisboa: Assírio & Alvim, 2003

domingo, 4 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

P de (The) Privacy of Rain (XIV)





O regresso ao trabalho e o regresso da chuva
01/09/11

K de Kissing the sun (III)


Philip Wilson Steer, "Young Woman on the Beach", 1886

B de Biorritmo (CV)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

C de "Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." (IV)


"O corpo foi colocado em cima de conchas, deitado de lado, com as pernas dobradas. A mão direita ficou a repousar nos joelhos, enquanto o braço esquerdo foi encolhido e a mão colocada junto ao peito. A cabeça terá sido apoiada num objecto que se degradou, por isso o pescoço descaiu para trás. A tapar o corpo, um manto também de conchas. Assim ficou durante 7500 anos, até que este Verão o seu esqueleto foi descoberto numa escavação arqueológica perto de Muge, no concelho de Salvaterra de Magos.
[...]"

Teresa Firmino
in P2, 19 de Agosto de 2011

P de (Os) Pássaros em Volta (XX)

R de Regresso ao trabalho (XIX)

     - Por que não trabalhas?
     - Detesto ocupações certas, a horas certas, e de viver fora de mim mesmo. Gosto de aproveitar o tempo.


Maria Gabriela Llansol, Os Pregos na Erva,
Lisboa: Portugália Editora, 1962, p.79