"[...] Os dias passam; por vezes, ouço a vida passar. E ainda não aconteceu nada; não há nada de real ainda, à minha volta; não páro de me dispersar, e de me perder em fios de água, quando eu desejava ter um só leito e fazer engrossar o meu caudal. Porque é assim que deve ser, não é verdade, Lou?: nós queremos ser como um rio, e não um sistema de canais para irrigar prados. Devemo-nos reunir e fazer soar o trovão, não é verdade? Um dia, quando formos muito velhos, lá para o fim, talvez nos assista o direito de ceder, e de nos espraiarmos num delta..."
Rainer Maria Rilke
in Querida Lou, trad. António Gonçalves,
Sintra: Colares Editora, 1994
[ID, Portas do Ródão, 09/015]
2 comentários:
Tenho de ler o texto integral. Aguçou-me o apetite.
Vale sempre a pena (re)ler Rilke.
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