Eva - É preciso aprender-se a viver. Eu treino todos os dias.
in Ingmar Bergman, Sonata de Outono
domingo, 31 de janeiro de 2010
sábado, 30 de janeiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
V de Vida/Morte/?
QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.
Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.
Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.
Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.
Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.
Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.
Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.
Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.
Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.
Natália Correia
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
R de Regresso ao Trabalho (II)
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
A de Afinidades Electivas
Já Goethe dizia que as afinidades eram electivas, mas Jorge Reis-Sá (citado na última Time Out) vai mais longe: "As escolhas são sempre mais electivas". Indiscutível...
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
F de Fazer Fotografia (VIII bis)
Há dias que começam com sinais muito contraditórios. Hoje, a caminho do trabalho, fui presenteada com um arco-íris enorme. Já tinha decidido que só podia ser um bom sinal, um sinal a guardar em fotografia para substituir o arco-íris que o portátil "desfragmentara", quando descobri que deixara a máquina em casa. Mau sinal? Talvez não. Logo a seguir começou a chover e descobri mais uma coisa: que o guarda-chuva ficara em casa, ao lado da máquina. Se calhar, era mesmo mau sinal. Cheguei completamente encharcada ao trabalho, mas acabei por decidir que aquele arco-íris, já nada nem ninguém me tirava. Era um bom sinal. Até agora, não tenho provas em contrário...
domingo, 10 de janeiro de 2010
F de Fazer Fotografia (VIII)
O computador portátil dediciu desfragmentar a pen com as minhas fotografias dos últimos três anos. Fiquei deprimida, como se perder aqueles três anos de imagens eqivalesse efectivamente a perder três anos de vida; aliás, a perder toda a parte feliz desses três anos, porque só essa se fixa normalmente. No inventário de instantes perdidos, doeu-me sobretudo o arco-íris, de um lado ao outro da lezíria, que tinha conseguido surpreender numa manhã de Novembro.
Se calhar começo a perceber que, quanto mais tentamos possuir e guardar as coisas, mais nos arriscamos a perdê-las; devemos sobretudo vivê-las.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
B de Biorritmo (XI)
I made a small small song
made a small small song
I sang it all night long
All through
The wind and rain
Until the morning came
This song is my small song
This song is my small song
I sang it all night long
And when
The morning came
I had to start all over again
My song is so so small
My song is so so small
I could get down and crawl
Searching from
Wall to wall
And never see
Anything at all
How could you hate
Such a small song?
How could you hate
Such a small song?
If I was right
I would be wrong
Don't be afraid
It's just a small song
made a small small song
I sang it all night long
All through
The wind and rain
Until the morning came
This song is my small song
This song is my small song
I sang it all night long
And when
The morning came
I had to start all over again
My song is so so small
My song is so so small
I could get down and crawl
Searching from
Wall to wall
And never see
Anything at all
How could you hate
Such a small song?
How could you hate
Such a small song?
If I was right
I would be wrong
Don't be afraid
It's just a small song
Lhasa de Sela,
no disco "The Living Road"
C de Carrosséis
Acabei de ouvir, nas notícias, estas declarações de um proprietário de carrossséis em protesto:
"Fazemos tanta parte das festas como as procissões. (...) Vendemos sensações lúdicas, saudáveis."
Subscrevo a primeira parte; sempre gostei mais dos carrosséis. Mesmo (talvez ainda mais) agora.
"Fazemos tanta parte das festas como as procissões. (...) Vendemos sensações lúdicas, saudáveis."
Subscrevo a primeira parte; sempre gostei mais dos carrosséis. Mesmo (talvez ainda mais) agora.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
V de Viagens (III)
Porque um Ano Novo também é uma viagem - e apetece-me sempre estrear um caderno/livro/diário/bloco/folha no dia 1 de Janeiro:
Os meus blocos estão atafulhados de apontamentos desordenados: lugares, nomes, cheiros, horários, citações, títulos de livros ou autores que não encontrei, direcções, números de telefone para onde não liguei ou liguei e não atenderam, tarefas que me propunha fazer e afinal consistiam no prazer de estrear a quadrícula das folhas em branco.
Raramente começo uma viagem sem um bloco novo. Procuro-os nas pequenas papelarias, preferencialmente de província, onde me anima acreditar que sou esperado por um bloco de folhas imaculadamente pardas, dimensão consentânea com o bolso da camisa, do blusão, sem que a espiral metálica entre em conflito com a lapiseira e o cachimbo.
Essa ronda é apenas um dos muitos subterfúgios a que recorro para ritualizar a viagem da escrita em viagem (...).
Jorge Fallorca, A Cicatriz do Ar,
Lisboa: Edição de autor, 2009
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