sábado, 31 de julho de 2010
V de Vício (III)
sexta-feira, 30 de julho de 2010
F de Férias
Conclusão, aliás feliz: Preciso de tirar umas férias. A sério.
É preciso fazer qualquer coisa contra o medo.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
H de "Hay que beber para recordar y comer para olvidar" (IV)
O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela / Copenhaga (encerrado em 2007)
domingo, 25 de julho de 2010
A de À falta de mar (II)
No guardanapo,
a negro, o nome do oceano
em algum dia em algum
segmento perdido do tempo
haveria de ter o Atlântico
por detrás de uma janela
como se fosse a montra de
nenhum outro bar
onda atrás de onda
e quando soprasse a nortada
e o vidro se confundisse
com os cristais do sal
círculo ao redor do copo
o oceano era a palavra que
levava aos lábios.
João Miguel Fernandes Jorge,
Invisíveis Correntes, Lisboa: Relógio D’Água, 2004
sexta-feira, 23 de julho de 2010
F de Fazer Fotografia (XV)
pupila fechada na sua moldura
como um azulejo,
a lágrima coalhada:
no filme a luz que se deixa prender
e vela ainda
o olho de vidro
o berlinde opaco de tanto dormir.
Elisa Biagini, “Morgue”
in TELHADOS DE VIDRO 6
quarta-feira, 21 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
A de Amor em Fuga
B de Biorritmo (XXV)
Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
T de Tratado de Pedagogia (IX)
As nuvens sobrevoaram os poemas. Os poemas desapareceram. Submersos no limbo. Ou ocultados por uma folha amarelecida, quase ao rés da terra, na floresta nocturna de repente incognoscível. Os poemas foram deslizando para o outro lado do tempo. Quem os escreveu deu-os por perdidos, dolorosamente ignorante da viagem secreta.
Os poemas desapareceram.
Contradizendo o abismo irremediável, os poemas emergiram na manhã seguinte. Cobertos de orvalho.
sábado, 17 de julho de 2010
F de Fazer Fotografia (XIV)
F de Fazer Fotografia (XIII)
Ofereceram-me uma antologia de poemas felizes*. Logo na Introdução, a organizadora questiona-se sobre até que ponto é possível pôr a felicidade por escrito. Seguem-se 101 exemplos, mas a capa é talvez a melhor prova de que se pode fixar a felicidade. Não a vou descrever; só vendo (se calhar, a felicidade não deve ser lida, tem de ser mesmo vivida/vista em primeira mão).
É curioso, porque esta semana tinha falado com dois amigos sobre porque é que fotografamos: o que é que queremos apreender? O que é que tentamos salvar? O que é que nos foge ou, em última análise, não é fotografável? Para eles, o que se fotografa é sempre, de uma maneira ou outra, a morte. A ausência. Real ou pressentida. E por isso usei o verbo salvar. A razão pela qual guardo tantas fotografias ao longo dos anos é porque quero salvar, de algum modo, todas aquelas pessoas, sítios e momentos que entretanto fui perdendo ou vendo mudar. Ao abrir um dos álbuns, recupero a minha bisavó do Algarve ou o sorriso do dia em que acabei o estágio e descobri que estava apaixonada. A felicidade até pode ser isso: saber que fotografar a morte é roubar do esquecimento, da segunda morte; prolongar esses “últimos olhos” de que falou o Borges. Às vezes, a poesia também faz o mesmo: guarda em si as ondas que partilhámos com alguém que já morreu, numa ilha já modernizada; impede que as flores plantadas provisoriamente na calçada da minha rua murchem; mantém o amor em passeio pelos caminhos da manhã.
Claro que a morte parece ganhar sempre. Nem tudo é fotografável. Há pessoas que fugiram sempre da objectiva e que agora temos medo de não conseguir recordar, fechando os olhos. Há momentos que aconteceram sem testemunhas que os fotografassem ou escrevessem – quando desci as escadas da casa da minha bisavó, carregada de livros, aos 4 anos. Há coisas que dificilmente se conseguem fotografar – o vento nas searas, borboletas a esvoaçar à nossa volta, a maior parte das coincidências (duas velas a serem acesas ao mesmo tempo, por pessoas diferentes mas com a mesma intenção). E há coisas que o tempo – a morte – se encarrega de vir novamente resgatar, como os arco-íris que o meu computador desfragmentou.
Mas depois existem pequenos milagres. O descobrir uma fotografia semelhante a uma das minhas recordações mais antigas num livro de Stanley Kubrick. E, por vezes, quando chego a casa e passo as fotografias para o ecrã/papel, surpreender-me com o pássaro que se atravessou em pleno céu, a sombra ou o reflexo que conseguimos captar, a esperança que doía por resistir à realidade de uma cadeira de rodas para venda e de um bando de cães abandonados num sítio em ruínas. O suficiente para, por instantes, vencer a morte, suportar a vida e estar, um pouco, feliz.
* Heaven on Earth: 101 Happy Poems (Faber and Faber)
quinta-feira, 15 de julho de 2010
O de "Onde se lê amor"
E a música. A música, atravessando, diagonal ininterrupta, as salas todas. Atravessando o corredor, muito longo. Com seus segredos.
B de Biorritmo (XXIVc)
E outra versão ainda:
"Como és mejor el verso aquel/ que no podemos recordar." (Letra de Homero Expósito)
quarta-feira, 14 de julho de 2010
A de À falta de mar...
terça-feira, 13 de julho de 2010
M de Museu Imaginário (VII)
Vilhelm Hammershøi, "Interior with Young Man Reading", 1898 (Hirschsprung/Copenhaga)
domingo, 11 de julho de 2010
B de Biorritmo (XXIII)
"[…] Nina,/ no llorés, mordete los ojos,/ cachame las manos bien fuerte,/ si viene la muerte, mangala:/ que pague, de prepo y de a uno/ los días felices que debe. […]"
Horacio Ferrer
quinta-feira, 8 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
B de Biorritmo (XXII)
MORGEN
Música: Richard Strauss
Texto: John Henry Mackay
Elisabeth Schwarzkopf, Soprano / LSO, George Szell
Und morgen wird die Sonne wieder scheinen,/und auf dem Wege, den ich gehen werde,/ wird uns, die Glücklichen, sie wieder einen/ inmitten dieser sonnenatmenden Erde...// Und zu dem Strand, dem weiten, wogenblauen,/ werden wir still und langsam niedersteigen,/ stumm werden wir uns in die Augen schauen,/und auf uns sinkt des Glückes stummes Schweigen...
[And tomorrow the sun will shine again/ And on the path that I shall take/ It will reunite us, the blessed ones,/In the midst of this world that breathes in the sun...// And to the broad shore, lapped by blue waves,/ We shall quietly and slowly climb down,/ Silently we shall look into each other's eyes/ While upon us descends the silence of true bliss...]