sexta-feira, 15 de outubro de 2010

M de Museu Imaginário (XIb)

Há aqui tapeçarias, Abelone, tapeçarias. Imagino que tu estás aqui; são seis tapeçarias; anda, vamos vê-las devagar. Mas primeiro recua um pouco e vê-as todas a um tempo. Que tranquilas, não é verdade? São pouco variadas. É sempre esta ilha oval e azul, flutuando sobre o fundo discretamente vermelho, que é florido e habitado de pequenos animais ocupados consigo mesmos. Só acolá, na última tapeçaria, é que a ilha sobe um pouco, como se se tivesse tornado mais leve. Traz sobre ela sempre uma figura, uma mulher, de trajo diferente, mas sempre a mesma. Por vezes, há a seu lado uma figura mais pequena, uma serva, e há sempre os dois animais heráldicos, grandes, também sobre a ilha, também dentro da acção. À esquerda, um leão, e à direita, de cor clara, o licorne; seguram estandartes iguais, ao alto, acima deles; três luas de prata, subindo, em banda azul sobre fundo vermelho. – Já viste? Queres começar pela primeira?


Rainer Maria Rilke, Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, trad. Paulo Quintela
[Obrigada, Sandra]