sábado, 31 de março de 2012
B de Biorritmo (CXXIV)
[...]
She lit a burner on the stove and offered me a pipe
"I thought you'd never say hello" she said
"You look like the silent type"
Then she opened up a book of poems
And handed it to me
Written by an Italian poet
From the fifteenth century
And every one of them words rang true
And glowed like burning coal
Pouring off of every page
Like it was written in my soul from me to you
Tangled up in blue
[...]
S de Solidão (ou C de Comunidade) - XLII
O TRANSEUNTE
Todas as ruas que conheço
são um longo monólogo meu,
cheias de pessoas como árvores
batidas por obscuro ruído.
Ou se o sol floresce nas varandas
e semeia o seu calor na poeira agitada,
as pessoas que encontro são simples pedras
que não sei porquê vivem rodando.
Sob os seus olhos - que me fixam hostis
como se eu fosse inimigo de todos -
não consigo descobrir uma consciência livre,
de criminoso ou de artista,
mas sei que todos lutam sozinhos
pelo que procuram todos juntos.
São um longo gemido
todas as ruas que conheço.
*
A FELICIDADE
Há miríades de seres no universo
que são felizes - e não te conhecem.
Milhões de pessoas na Terra
são felizes sem te amar.
E alguns que te amaram
desfrutam de um feliz esquecimento.
Porquê, então, sou eu o único homem
para quem tu és toda a felicidade do mundo?
- Rogelio Echavarría
in Um país que sonha, trad. Nuno Júdice, 2012
sexta-feira, 30 de março de 2012
E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XIX)
DREAMWOOD
there is a landscape, veined, which only a child can see
or the child’s older self, a poet,
a woman dreaming when she should be typing
the last report of the day. If this were a map,
it would be the map of the last age of her life,
not a map of choices but a map of variations
on the one great choice. It would be the map by which
she could see the end of touristic choices,
of distances blued and purpled by romance,
by which she would recognize that poetry
isn’t revolution but a way of knowing
why it must come. If this cheap, mass-produced
wooden stand from the Brooklyn Union Gas Co.,
mass-produced yet durable, being here now,
is what it is yet a dream-map
so obdurate, so plain,
she thinks, the material and the dream can join
and that is the poem and that is the late report.
- Adrienne Rich
quinta-feira, 29 de março de 2012
[...]
A 10 de Abril de 1934, em plena "ocultação" de Vénus pela Lua (fenómeno esse que só acontecia uma vez por ano), almoçava eu num pequeno restaurante, situado, bastante desagradavelmente, à entrada de um cemitério. Para lá se chegar, havia que passar, sem grande entusiasmo, diante de várias lojas de flores. O espectáculo de um relógio sem mostrador pendurado na parede também não me pareceu, naquele dia, uma ideia de bom gosto. Nada mais tendo que fazer, pus-me no entanto a observar a aprazível vida daqueles sítios. À noite, o patrão, "que faz a cozinha", volta para casa de motocicleta. Os operários parecem fazer honras à comida. O homem que lava a loiça, um homem realmente belíssimo, com um ar bastante inteligente, sai, de vez em quando, da copa, para, de cotovelo apoiado ao balcão, vir discutir com os clientes coisas na aparência sérias. A criada é muito bonita: ou melhor, poética. Nessa manhã de 10 de Abril, trazia ela, sobre uma gola branca salpicada de bolas vermelhas, muito a condizer com o vestido preto, um finíssimo cordão donde estavam suspensas três límpidas gotas de água como que feitas de pedra lunar, gotas redondas sobre as quais se destacava, na parte de baixo, um crescente da mesma matéria, engastado do mesmo modo. Pude apreciar, uma vez mais, a coincidência entre a jóia e o eclipse. Como tentasse situar a rapariga, tão bem inspirada para aquela ocasião, ouvi, de repente, a voz do lavador de louça: "Ici l’Ondine!", e a resposta estranha, infantil, quase ciciada, perfeita: "Ah,! Oui, on le fait ici, l’On dîne!". Que cena poderá haver de mais comovente? Era o que me perguntava, nessa mesma noite, ao ouvir os artistas do teatro de l'Atelier massacrarem uma peça de John Ford.
A beleza convulsiva terá de ser erótico-velada, explodente-fixa, mágico-circunstancial, ou não será beleza.
André Breton, O Amor Louco,
trad. de Luiza Neto Jorge, 2ª ed., Lisboa: Editorial Estampa, 1987
quarta-feira, 28 de março de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
M de Mesa de Amigos (VIII)
QUANDO ABRES A TUA CASA
Quando abres a tua casa
os amigos entram, esgaravatam,
deixam as suas cinzas, as suas migalhas,
o riso nas paredes como uma aranha.
No pavimento a sombra bailando, a goma dos dias.
As suas palavras são animais mortos que varres.
Se eles se vão,
a casa é uma boca de lobo
e queres fugir dos seus dentes, da insónia,
de ti mesmo.
Mas com frequência os amigos regressam.
Vêm à procura de um cheiro perdido, de uma moeda antiga,
do vazio do seu corpo na cadeira,
da música que esqueceram.
Então,
já ninguém sabe onde começa o vazio,
se é melhor estar antes ou depois da porta,
se a lua entra ou sai de casa.
Luz Helena Cordero
in Um país que sonha- cem anos de poesia colombiana,
trad. Nuno Júdice, 2012
segunda-feira, 26 de março de 2012
domingo, 25 de março de 2012
A de A Arte da Guerra
ESTA NOITE
Como doem os ventos esta noite
quando ao longe os tambores da guerra
se acariciam tristemente e pedaços de céu
se desprendem apodrecidos, cansados.
Esta noite no quarto com aroma de pêssego
os amantes sussurram como soldados feridos
e lembram o seu primeiro beijo como uma bala suave.
Nos gastos divãs, os avós de riso lânguido
esperam apenas a fria carícia da morte
e entretêm, tecendo, as suas horas de recordações.
A noite avança como um grande deus que enfeitiça no medo
mais além dos bosques e das sombrias armadilhas,
mais além do selvagem amor da fêmea humilhada.
Nesta noite de olhar de lobo
como dói o silêncio que repousa como rapariga febril
por trás dos vidros das casas.
Orietta Lozano
in Um país que sonha - cem anos de poesia columbiana,
trad. Nuno Júdice, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012
sábado, 24 de março de 2012
sexta-feira, 23 de março de 2012
quarta-feira, 21 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
P de Primavera (XIV)
Enviaram-me este poema noutra Primavera:
SPRING QUIET
Gone were but the Winter,
Come were but the Spring,
I would go to a covert
Where the birds sing.
Where in the whitethom
Singeth a thrush,
And a robin sings
In the holly-bush.
Full of fresh scents
Are the budding boughs
Arching high over
A cool green house:
Full of sweet scents,
And whispering air
Which sayeth softly:
“We spread no snare;
“Here dwell in safety,
Here dwell alone,
With a clear stream
And a mossy stone.
“Here the sun shineth
Most shadily;
Here is heard an echo
Of the far sea,
Though far off it be.”
- Christina Rossetti
segunda-feira, 19 de março de 2012
E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XVIII)
DE MOMENTO EM MOMENTO
Porquê este caminho e não outro? Onde é que ele vai dar para nos atrair tanto? Que árvores e que amigos estão vivos atrás do horizonte das suas pedras, no milagre longínquo do calor? Viémos até aqui porque lá onde estávamos já não era possível. Torturavam-nos e queriam-nos escravos. O mundo, hoje em dia, é hostil aos Transparentes. Foi preciso partir de novo... E este caminho, que parecia um longo esqueleto, trouxe-nos a um país que só tinha o seu próprio fôlego para escalar o futuro. Como mostrar, sem as trair, as coisas simples desenhadas entre o crepúsculo e o céu? Pela virtude da vida teimosa, nos meandros do Tempo artista, entre a morte e a beleza.
René Char,
no prefácio a um dos meus livros de fotografia preferidos
[Trad. ID]
domingo, 18 de março de 2012
sábado, 17 de março de 2012
P de Pássaros anónimos (III)
RECORDAÇÃO DA INFÂNCIA
Enterrei um pássaro
no chão do jardim
e ele voou tanto
que pousou em mim.
*
A NOITE MISTERIOSA
Quando durmo, um pássaro
pousa no meu ombro.
Vou sem minha sombra
por essa alameda
que só há nos sonhos.
O sol rompe a névoa
que cai do céu branco.
O pássaro voa
e termina o assombro.
Lêdo Ivo
sexta-feira, 16 de março de 2012
F de "(Une) famille d'arbres" - II d *
Não fazer nada
visível murchar
As minhas mãos pertencem a um bater de asas roubado
Com elas vou cosendo um buraco
mas elas suspiram junto a este abismo aberto -
visível murchar
As minhas mãos pertencem a um bater de asas roubado
Com elas vou cosendo um buraco
mas elas suspiram junto a este abismo aberto -
quinta-feira, 15 de março de 2012
P de (The) Privacy of Rain (XXIV)
ANIVERSÁRIO COM ESTÁTUA
Misturadas com a chuva, as recordações
deslizam pelo rosto
de mármore meio oculto pelas heras.
Penso que hoje a pena é maior
por causa da verde emboscada da chuva
que esta manhã te levou ao pátio.
Olho o rosto de mármore. Diz isto:
a terra promtida era a morte.
Joan Margarit, No estaba lejos, no era difícil (2011)
P de (The) Privacy of Rain (XXIII)
[...]
Maybe tomorrow
Today looks like it's bringing rain
And I'll leave everything in order
I don't want nothing standing in my way
There are jobs needing tending
And logs that are waiting to stack
And I'll leave everything in order
I don't want nothing that's gonna hold me back
quarta-feira, 14 de março de 2012
terça-feira, 13 de março de 2012
segunda-feira, 12 de março de 2012
B de Biorritmo (CXXI)
Le corbeau s'approche
Atterit sur l'épaule de celui qui écrit
Reviens lui picorer le cou
Les veines sortent des chairs
Le sang se répand sur la page
Il crie ses dernières lignes
Et s'endort
[...]
[Obrigada, Rosa]
A de "até que os fios do coração" - XI b
LÍRICA DOS 70 ANOS
Que ninguém procure nesta lírica
grandes fogueiras solesticiais.
Quem as acende são os filósofos
e as religiões, mas não protegem
do frio que há na metafísica,
o mesmo que há na superstição.
Se neste frio tens de queimar a tua vida,
volta à terra dura.
Suporta quem foste
e não entres docilmente no teu inverno.
Esta mulher com quem discutes
mente sobre o passado, tal como tu.
Triste ao seu vento, ama-te amaldiçoando-te.
Mas não entres docilmente no teu inverno.
Joan Margarit, No estaba lejos, no era difícil (2011)
domingo, 11 de março de 2012
A de "até que os fios do coração" (XI)
[...]
El miedo no es más que la falta de amor, un pozo que tratamos de llenar inútilmente con las cosas más variadas, en una acción directa, sin subtilezas, que no se acaba nunca, porque el pozo siempre está igual de vacío y oscuro. Cuando no se entiende el miedo, no se puede intentar nada más que esta acción sin matices, que es la del egoísmo, porque no puede tener en cuenta nada más que, sin saber de donde procede, rellenar el proprio vacío. Entonces, el amor quizá no está lejos, pero es difícil. Hay que volver al tiempo antes del pozo, saber cómo y cuándo comenzó a cavarse. A mi edad esto es ineludible. A la sustitución del miedo por la lucidez, lo llamo dignidad. Entonces es cuando resulta que el amor no estaba lejos ni era difícil.
[...]Joan Margarit,
no epílogo a No estaba lejos, no era difícil (2011)
T de Tratado de Pedagogia (XLV)
A EXPLICAÇÃO
De manhã cedo, à hora em que as ruas
se enchem de crianças
que vão para a escola, sente-se
no ar uma nova dignidade.
Alguns frequentam escolas pequenas com jardim
e professores que nunca levantam a voz.
Crianças com gestos dificeis que lembram
alguém que um dia se perdeu no ar.
Os seus pais choram com frequência
quando ficam sozinhos.
Demora-se tanto a entender.
Por isso ninguém tem duas oportunidades.
Mas estas crianças nunca o saberão,
digo eu, enquanto penso no sorriso
que hoje, angustiado, sinto a desvanecer-se.
Já só restam algumas memórias
para me explicar que é no amor
que fui deixando a vida.
Joan Margarit, No estaba lejos, no era difícil (2011)
sábado, 10 de março de 2012
M de Mesa de Amigos - V b
Vi-o sair de casa
o fogo tinha-se-lhe pegado
mas não o queimara
Trazia uma pasta de sono
debaixo do braço
dentro estava pesada de letras e números
toda uma matemática -
No seu braço estava marcado a fogo:
7337 o indicativo
Estes algarismos tinham-se conjurado uns c'os outros
O homem era agrimensor
Já os seus pés se elevavam da Terra
Um esperava lá em cima por ele
pra construir um novo paraíso
"Mas espera - em breve repousarás também -"
o fogo tinha-se-lhe pegado
mas não o queimara
Trazia uma pasta de sono
debaixo do braço
dentro estava pesada de letras e números
toda uma matemática -
No seu braço estava marcado a fogo:
7337 o indicativo
Estes algarismos tinham-se conjurado uns c'os outros
O homem era agrimensor
Já os seus pés se elevavam da Terra
Um esperava lá em cima por ele
pra construir um novo paraíso
"Mas espera - em breve repousarás também -"
Nelly Sachs, Poemas, trad. Paulo Quintela,
Lisboa: Portugália Editora, 1967
sexta-feira, 9 de março de 2012
P de Poesia - IV b
Se não pudermos dar tudo à poesia - e tudo quer dizer toda a verdade que há na nossa vida - não devemos continuar.
Joan Margarit, Nuevas cartas a un joven poeta (2009)
quinta-feira, 8 de março de 2012
S de Solidão (ou C de Comunidade) XL
[...]
O poeta e o leitor sabem que este caminho até ao crescimento interior passa por uma aproximação à lucidez, à verdade. Trata-se de fazer frente à desordem, à dor, ao mal, de maneira a que fique iluminado - como o pão de Dalí naquele quadro que é um dos melhores deste pintor - com uma claridade que por si só já consola. Uma claridade que - misteriosamente - permite viver sem necessidade de esquecer. Este é, para mim, o território da poesia, porque esta iluminação é a que o poema proporciona. Este é o objectivo, tanto de quem escreve como de quem lê poesia: alcançar cada um a sua própria maneira de fazer frente à solidão.
Joan Margarit, Nuevas cartas a un joven poeta,
Barcelona: Barril Barral, 2009
R de Regresso ao trabalho? - XXXIX
Take it easy boy, boy,
go to your home smoke a cigar
take it easy boy, boy,
let the others do the hard work for you.
Take it easy boy, boy,
spend ev'ry dime have a good time
take it easy boy, boy,
let the others make the money to you.
If you don't do what I say
you will soon grow old and gray
just walk out be glad and gay
singing ha-ha hay, hay.
Take it easy boy, boy
go to your home smoke a cigar
take it easy boy, boy,
let the others do the hard work for you.
quarta-feira, 7 de março de 2012
E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XVII)
CONTRA LOS PUENTES LEVADIZOS
Pero ¿cómo sería tu amor
sin tus rencores?
sin tus rencores?
Pablo Armando Fernández
hurrah! por fin ninguno
es inocente
es inocente
Juan Gelman
[...]
2
No sé si es el momento
de decirlo
en este punto muerto
en este año desgracia
por ejemplo
decírselo a esos mansos
que no pueden
resignarse a la muerte
y se inscriben a ciegas
caracoles de miedo
en la resurrección
qué garantía
por ejemplo
a esos ásperos
no exactamente ebrios
que alguna vez gritaron
y ahora no aceptan
la otra
la imprevista
reconvención del eco
o a los espectadores
casi profesionales
esos viciosos
de la lucidez
esos inconmovibles
que se instalan
en la primera fila
así no pierden
ni un solo efecto
ni el menor indicio
ni un solo espasmo
ni el menor cadáver
o a los sonrientes lúgubres
los exiliados de lo real
los duros
metidos para siempre en su campana
de pura sílice
egoísmo insecto
ésos los sin hermanos
sin latido
los con mirada acero de desprecio
los con fulgor y labios de cuchillo
en este punto muerto
en este año desgracia
no sé si es el momento
de decirlo
con los puentes a medio descender
o a medio levantar
que no es lo mismo.
[...]
MARIO BENEDETTI
terça-feira, 6 de março de 2012
S de Solidão (ou C de Comunidade) XXXIX
MEJOR TE INVENTO
Estás alicaído, estás dudando,
no te alcanzan las pruebas ni las preces,
cada Dónde te ofusca, cada Cuándo.
Recorres el confort, las estrecheces
que quedaron atrás y es razonable
que reclames la vida que mereces,
las ventanas de paz, el techo estable.
Pero yo, te confieso, prefería
(cómo querés, hermano, que te hable?)
cuando tu vieja angustia estaba al día
con la angustia del mundo, cuando todos
éramos parte en tu melancolía.
Sé qué polvos trajeron estos lodos
pero saberlo no es la mejor suerte.
Inventaré quién sos. De todos modos,
inventarte es mi forma de creerte.
no te alcanzan las pruebas ni las preces,
cada Dónde te ofusca, cada Cuándo.
Recorres el confort, las estrecheces
que quedaron atrás y es razonable
que reclames la vida que mereces,
las ventanas de paz, el techo estable.
Pero yo, te confieso, prefería
(cómo querés, hermano, que te hable?)
cuando tu vieja angustia estaba al día
con la angustia del mundo, cuando todos
éramos parte en tu melancolía.
Sé qué polvos trajeron estos lodos
pero saberlo no es la mejor suerte.
Inventaré quién sos. De todos modos,
inventarte es mi forma de creerte.
MARIO BENEDETTI
III
Bésale las piernas a la poesía
aunque diga que no / que aquí nos pueden ver
bésale las palabras hurga su luenga / hasta
que abra los brazos y diga Santo Dios!
o hasta que santodios abra los brazos de escándalo
bésale a la poesía a la loba
aunque diga que no que hay mucha gente que
aquí nos pueden ver / bésale las piernas las palabras
hasta que no dé más hasta que pida más
hasta que cante.
Jorge Boccanera
in Nueva poesía argentina (1987)
segunda-feira, 5 de março de 2012
E de Espera (XVII)
HOMBRE EN LA SINAGOGA
Solía venir aquí en busca de consuelo
cuando amaba a una mujer que no me quiso.
Y cuando desoí a quienes me oyeron
y herí a quienes me amaron,
vine aquí en busca de perdón.
Un día estalló el último espejo
y mi vida fue un peso sin forma
y aquí volví en busca de Dios.
Dios calló como siempre
y entonces descubrí la sinagoga:
sus sólidas paredes,
el gratísimo silencio,
la fresca paz de este recinto en el verano,
y ya no me fui más.
Afuera la inclemencia empuja a la fe
y la fe al vacío.
Aquí dentro la ausencia de Dios importa poco.
Santiago Kovadloff
in Nueva poesía argentina (1987)
domingo, 4 de março de 2012
sábado, 3 de março de 2012
P de (The) Privacy of Rain (XXI)
LO FUSILARON CONTRA EL PAREDÓN DEL BAJO FLORES
Para que se borre de esta pared la sombra del pájaro
que esta madrugada surcaba el cielo en el preciso instante,
hará falta que la lluvia descascare la cal, trabaje las grietas
y la tierra enrojecida vuelva a ser barro bajo la lluvia,
hará falta que los hombres caminen ese barro, huella tras huella,
cansados como si toda la lluvia pesara sobre ellos.
Para que se borre de esta pared la sombra del pájaro
harán falta otras manos de cal, otras manos.
Alberto Szpunberg
in Nueva Poesía Argentina (1987)
sexta-feira, 2 de março de 2012
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