terça-feira, 21 de novembro de 2017

L de Liberdade condicional





O HOMEM DA PERNA DE PAU


Havia um homem que vivia muito perto de nós
Tinha uma perna de pau e um pintassilgo numa gaiola verde
Chamava-se Farkey Anderson
E tinha estado numa guerra para arranjar aquela perna.
Sentíamos muita pena dele
Pois tinha um sorriso tão bonito
E era um homem tão grande a viver numa casa mesmo pequenina
Quando ele andava na rua a sua perna não fazia grande diferença
Mas quando andava na sua casa pequenina
Fazia um barulho horrível.
O Irmãozinho dizia que o pintassilgo dele cantava mais alto do que todos os outros pássaros
Para o homem não ter de ouvir a sua pobre perna
E ficar demasiado triste com isso.


KATHERINE MANSFIELD
[Trad. Inês Dias
- aqui]





[Inês Dias, Lisboa-Guimarães | 011-013]

Regresso do trabalho (II)




Nuno Moura, Clube dos Haxixins
Lisboa, Douda Correria, 2016

domingo, 19 de novembro de 2017

A de "aparece de vez em quando uma inês que gostaria de fotografar coincidências" (VI)


"[...] A vida. Que é uma palavra só nossa para dizer poesia. [...]"*





* In Cão Celeste n.º 1, Lisboa, Abril de 2012

terça-feira, 14 de novembro de 2017

T de Tratado de Pedagogia (XL)


"Tu as tout à apprendre, tout ce qui ne s'apprend pas: la solitude, l'indifférence, la patience, le silence."


- Georges Perec, Un homme qui dort, 1967


sábado, 11 de novembro de 2017

Y de "You can never hold back spring"


46.

Um grande poeta, meu amigo, disse-me que as buganvílias não têm cheiro. Mas nós sabemos que tudo tem cheiro, até o vidro, os navios de espelhos e as flores-de-lis tatuadas no coração das donzelas. As buganvílias, quando fenecem e se apagam lentamente, libertam, no exacto momento em que a sua luz se extingue, um suave odor a rapariga adormecida na madrugada. Os poetas sabem o mundo todo, mas nem sempre têm razão.


Rui Chafes, Entre o céu e a terra,
Lisboa, Documenta, 2012





[Lisboa, 26/10/12]