sábado, 9 de abril de 2016

J de (O) Jardim e a Casa (XI)


TEMPO


I

Enquanto dormes
as estações passam
sobre a montanha.

A neve no alto
fundindo-se dá vida
ao vento:
atrás da casa o prado fala,
a luz
bebe os vestígios de chuva nos caminhos.

Enquanto dormes
anos de sol passam
entre as copas dos lariços
e as nuvens.


II

Posso colher junquilhos
enquanto dormes
porque sei onde crescem.
E que a minha verdadeira casa
com as suas portas e as suas pedras
fique distante,
que nunca mais a encontre,
mas continue errando
pelos bosques
eternamente -
enquanto dormes
e os junquilhos crescem
sem trégua.


Antonia Pozzi, Morte de uma Estação,
com sel., trad. e capa de Inês Dias,
prefácio de José Carlos Soares e posfácio de Matteo M. Vecchio,
Lisboa: Averno, 2012







[ID, Jardim Botânico da Ajuda, 03/12/011]

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