Eu tentava recordar
esse belo
poema
nunca escrito
formado no seio da noite
e quase maduro
mergulhara
fundido na luz do dia
já não existia
esse poema era verdadeiramente
um poema sobre si próprio
tal como uma pérola
é a descrição de uma pérola
e uma borboleta a descrição de uma borboleta
por instantes tinha-o na ponta da língua
e inquieto esperava
a sua transmutação
em verbo
esse poema evanescente
à luz do dia
fechou-se sobre si próprio
e só às vezes
volta a brilhar com intensidade
mas nunca tento retirá-lo
das suas profundezas obscuras
para o depor sobre a margem lisa
da realidade
Tadeusz Rózewicz
in Inquiétude, Paris: Buchet/Chastel, 2005
[Trad. ID]
[Trad. ID]
1 comentário:
Uma pérola!
Merci, ID
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