terça-feira, 27 de novembro de 2012

P de Poética (XXXIV)


[...] "Faz com que eu seja sempre um poeta obscuro." Mas na adolescência uma vontade crescia em mim: ser alguém com uma arma na mão, ter o amor dos outros. Inocência, pois as armas são perigosas, e o amor vira-se contra nós. Anos depois contemplava a bela frase, a humildade ardente dessa frase, e concluía que os caminhos do orgulho, que me haviam conduzido até ela, eram a minha solitária arma e a maneira de antecipar com vitoriosa alegria as várias mortes dos meus vários anos. Bem. Tenho algumas prateleiras com livros, meia dúzia de quadros e desenhos, uma dezena de discos. O quarto pode ficar subitamente cheio. [...]


Herberto Helder, Os Passos em Volta,
9ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim,  2006

1 comentário:

j.e.simões disse...

(...)"Obscuros somos sempre, mesmo sem pedi-lo. Grande vitória que ninguém nos poderá arrebatar."(...)