domingo, 5 de maio de 2013

A de Amor (XXII)


FICÇÃO



Há uma eternidade
tal como a imagino
movimento continuado
dança
ao som de uma canção antiga na penumbra
de um bar velho e sebento
no cheiro a suor e pó-de-arroz
de um par
de um corpo estranho mas íntimo
abraçado em melodia sempre igual
uma valsa lenta talvez
algo arrastada arrebatada
e que também às vezes uma voz escondida
cantasse: Dream a little dream of me
e os nossos lábios se beijassem
como se estivessem
milénios distantes de nós
à luz de candeeiros de resto bem vulgares
que me encadeiam.


Günter Kunert
[Tradução de José Ribeiro da Fonte
in 90 Poemas de Günter Kunert, Lisboa: apáginastantas, 1983]




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