ENTARDECER NO SUBÚRBIO
Aqui o ar circula tranquilo.
Aqui brilha um candeeiro a gás e
ali outro. Aqui cheira a lilases
e ao fumo
de uma locomotiva perdida.
Os ruídos chegam mais longe
do que de dia, levados
por asas negras.
Atrás da sebe cada palavra dita
é aquilo que era no princípio: um começo.
Assim
só mais tarde os que falam
assumem as suas palavras, de estranhos
passam a vizinhos, rodeiam-se
dos seus jardins, de ruas acidentadas,
de carris de comboios, de Universo:
Faça-se subúrbio.
Faça-se noite.
Faça-se silêncio.
Por esta noite
suspendo a criação.
Günter Künert
[Trad. de Fernanda Portela
in 90 Poemas de Günter Kunert, Lisboa: apáginastantas, 1983]
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