[...] Desfizemos as malas no dormitório e agora estamos sentadas em rebanho, juntas, sob mapas que representam o mundo inteiro. Há escrivaninhas com tinteiros a transbordar. Aqui serão escritos a tinta os nossos deveres. Mas aqui não sou ninguém. Não tenho rosto. Esta grande comunidade, toda vestida de sarja castanha, roubou-me a identidade. Somos todas insensíveis, hostis. Vou procurar um rosto, um calmo rosto monumental, e vou conceder-lhe o dom da sabedoria, usá-lo por baixo do vestido como um talismã, e então hei-de encontrar (é uma promessa) um pequeno vale numa floresta e aí depositarei a minha provisão de estranhos tesouros. Prometo a mim própria. Assim, já não preciso de chorar.
[...]"
Virginia Woolf, As Ondas,
trad. Francisco Vale, Lisboa: Relógio D'Água, 1988
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