terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

P de "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera" (VII)





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Quero dizer-lhe: Sim, houve problemas, a nossa relação era difícil de perceber, e complicada, mas mesmo assim, queria apenas ter-te aí sentada na cama em que já dormiste algumas noites, agora é a tua parte da sala de estar, queria apenas olhar para o teu rosto, os teus ombros, os teus braços, o teu pulso com o relógio de bracelete dourada, um pouco apertado, enterrando-se na carne, as tuas mãos fortes, a aliança de ouro, as tuas unhas curtas, não tinha de te olhar nos olhos ou de ter qualquer tipo de comunhão, completa ou incompleta, mas ter-te aqui em pessoa, em carne e osso, por algum tempo, pressionando o colchão, enrugando a colcha, com o sol a brilhar atrás de ti, seria muito bom. Talvez te deitasses na cama para leres um pouco durante a tarde, talvez adormecesses. Eu estaria no quarto ao lado, muito perto. 
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trad. Inês Dias, Lisboa: Relógio D'Água, 2015





[ID, Sintra/013]

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