terça-feira, 23 de novembro de 2010

F de Flor Suficiente (III)

HOJE, MORRENDO, LEVO SAUDADES
Hoje, morrendo, levo saudades
De cada pedra, de cada flor.
Destas violetas, levo saudades
Que hão-de ir comigo, seja onde for!
Levo saudades da praia bela
Em não passando, nela, ninguém.
Levo saudades, saudades dela,
Mas dela, apenas. De mais ninguém!
Levo saudades daquela casa,
Espelho baço da minha vida.
Levo saudades daquela casa,
Inútil, grande, triste, perdida.
Nódoas ocultas? Segredos de alma?
Casa ensombrada pelo Poeta!
Por que a inquietaram, vendo-a tão calma?
Por que a abandonaram, ao vê-la inquieta?
Levo saudades da noite fria,
Por entre as campas a que fui dar.
(Quantas espadas na ventania!)
Mármore, gelo, nudez, Luar.
Levo saudades de haver criado
A minha própria ressurreição.
Que, sem rodeios, o meu pecado
Está nas coisas. Nos homens não!
Está no medo, na poesia
E (sobretudo!) no que se esconde
Por trás das grades frígidas, onde
Só,
Um crisântemo
Sorria…
Pedro Homem de Mello, As Perguntas Indiscretas

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