[Alcântara, 20/02/12 - e um adjectivo escondido atrás da coluna]
Conheço uma velha parede onde os sonhos se refugiam todos os dias ao fim da tarde. Os mais ambiciosos julgam que a velha parede é um mealheiro, e alguns chegam mesmo a confundi-la com um pote de moedas guardado por mouras encantadas ou onde nasce o arco-íris.
Incólume à ambição, a parede continua a envelhecer ao ritmo dos sonhos, que a procuram silenciosos e cansados, à medida que o sol se esconde atrás da parede onde se refugiam.
Creio que só as crianças conhecem o verdadeiro segredo da parede. A chave que dá acesso aos sonhos acumulados durante séculos, e que consiste em considerá-la apenas uma velha parede: onde se escondem quando brincam às escondidas e usam como baliza quando jogam à bola. Ou vão ainda mais longe, e garatujam também um sonho na cal da velha parede, com mão incerta mas determinada.
Jorge Fallorca
in Telhados de Vidro n.º11, Lisboa, Averno, 2008.
1 comentário:
Gosto! (e de adivinhar o adjectivo)
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