sexta-feira, 27 de abril de 2012

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No jogo do homem, o instinto da morte, o instinto silencioso, ocupa decididamente um lugar importante, talvez a par do egoísmo. Ocupa o lugar do zero na roleta. O casino ganha sempre. A morte também. A lei dos grandes números trabalha a seu favor. É uma lei sem falhas. Tudo o que fazemos, de uma maneira ou de outra, acaba rapidamente por esbarrar com ela e por se transformar em ódio, em sinistro, em ridículo. Era preciso sermos dotados de um modo muito particular para falarmos de outra coisa para além da morte nestes tempos em que sobre a terra, sobre as águas, no ar, no presente, no futuro, nada mais existe. Sei que se pode ainda dansar no cemitério e falar de amor nos matadouros, o autor cómico mantém as suas hipóteses, mas é apenas um tapa-buracos.
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Louis-Ferdinand Céline, "Hommage à Zola", 1933
[Trad. ID]

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