PAISAGEM EM 78 R.P.M.
A criança abaixa as sobrancelhas
e o sorvete
sobre a cabeça de lata de Camões
esquecida atentamente nos estofos normais de um Packard
Eu sou naquela tarde um ritmo
sabendo de antemão um coração ferido
Sem ser necessariamente elogiado pelos plátanos
ou saltar das fronteiras
de São Paulo para abraçar
as redondilhas da vida pastoral
Os filantropos entraram com o pé direito
na Casa da Aventura Lansquené
e os pardais urravam nos ninhos
feitos com cabelos de Trotsi
as latas de compota riam com as línguas
de fora
o Sol se punha nos meus planos
e
a
nossa
amante ruiva bota no pescoço um
lenço verde de Tolstoi
No alto
do Viaduto o louco colava pedacinhos de céu
na camisa de força
destruindo o horizonte a marteladas
a Morte
é
um
REFRÃO NO CRÂNIO SEM JANELAS
Roberto Piva, Paranoia,
São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2009
[Lisboa, Setembro 2012]
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