quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

L de (A) Luz da Sombra (XXXIII)

RESTOS
 
 
 
Não tenho nada, nem sequer recordo nada - disse.
Uma época sobreposta a outra - cores desmaiadas,
um cheiro a fruta podre, o meio-dia
e a cal deslumbrante. Uma noite,
ao acenderes um fósforo, consegui ver
aquela mancha pequenina, escondida
sob a tua orelha. Apenas isso. O resto,
o vento o arrasta para debaixo das árvores,
juntamente com os guardanapos de papel e as folhas de videira.
 
 
 
Yannis Ritsos, Antologia,
sel. e trad. de Custódio Magueijo,
Coimbra: Fora do Texto, 1993

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