sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

M de (O) Mistério da Estrada de Sintra (IV)

ESTRADA VERMELHA


Para a Inês Dias e a Maria de Jesus



Não se vai a Sintra; deve-se
ficar lá, de preferência no Lawrence's
e num quarto virado para o bosque.

Esta tarde, porém, regressámos.
Depois das francesinhas
e de vários holocaustos.

Não sei se vem daí a tristeza
que se me colou aos ossos,
indiferente aos projectos que traçámos.

Como se ainda houvesse salvação
nas letras, pelas letras,
e pudéssemos exterminar o nojo.

Não é provável que Gervásia,
a felina estrábica,
consiga sobreviver à leucemia.

O dia findava, morria connosco,
e, em tons de rosa estridente,
um cão celeste abanava a cauda.

Varria, para sempre, impérios e constelações.


Manuel de Freitas
in Grisu n.º1, Guimarães, Novembro de 2012

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