terça-feira, 3 de junho de 2014

E de Estudos literários comparados (V)


TERNA É A NOITE


Tender is the night
entre arquitecturas brancas
de casas com vedações intrincadas
caminhos de gravilha, suave
é a noite, uma pegada
um rangido, um passo
                                    sopra
azul e líquido o vento
da paixão civilizada
                                 algo
ficou entre as rodas de água 
na praia, uma tábua carcomida
e uma grinalda de algas

                                       vão passar
vinte anos, vinte constelações de cubos
de gelo em copos azulados, então
a harmonia da Europa consistia
num fundo de Bach
                                 e num suicídio
colectivo a cento e oitenta à hora

um alcoolizado levou consigo
o segredo do sofrimento pela impenetrabilidade 
a assepsia da água corrente
                                             e dos dentífricos
destruidores da nicotina
                                        Francis
Scott Fitzgerald, excessivamente inteligente
para engolir o mundo de cada dia
como um espesso melaço sobre as torradas.


Manuel Vázquez Montalbán
[Trad. Inês Dias]

2 comentários:

Anónimo disse...

que bonita tradução.
beijo.
marta

ID disse...

Fiquei apaixonada por este poema.
Temos de ir pensando na próxima leitura paralelística ;)
Beijo