TERNA É A NOITE
Tender is the night
entre arquitecturas brancas
de casas com vedações intrincadas
caminhos de gravilha, suave
é a noite, uma pegada
um rangido, um passo
sopra
azul e líquido o vento
da paixão civilizada
algo
ficou entre as rodas de água
na praia, uma tábua carcomida
e uma grinalda de algas
vão passar
vinte anos, vinte constelações de cubos
de gelo em copos azulados, então
a harmonia da Europa consistia
num fundo de Bach
e num suicídio
colectivo a cento e oitenta à hora
um alcoolizado levou consigo
o segredo do sofrimento pela impenetrabilidade
a assepsia da água corrente
e dos dentífricos
destruidores da nicotina
Francis
Scott Fitzgerald, excessivamente inteligente
para engolir o mundo de cada dia
como um espesso melaço sobre as torradas.
Manuel Vázquez Montalbán
[Trad. Inês Dias]
2 comentários:
que bonita tradução.
beijo.
marta
Fiquei apaixonada por este poema.
Temos de ir pensando na próxima leitura paralelística ;)
Beijo
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