[ID, Junho 013]
Muro
Embora a literatura se resuma ao gesto desesperado de um eu, ela só faz para mim sentido enquanto abertura ao outro, quer dizer, enquanto busca de um modo de acolher e expressar a condição humana. Este o meu desentendimento radical com o país da língua em que escrevo. Onde vejo mundo, aqui vê-se bairro. Onde vejo humano, aqui vê-se fulano. Onde vejo literatura, aqui vê-se grupo. Eu e o país jamais nos reconheceremos. Frente a frente, sempre o mesmo muro, a mesma violência surda, a mesma sufocação.
Jorge Roque
in Cão Celeste n.º 5, Lisboa, Maio de 2014
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