TERREIRO DO PAÇO
Na minha Lisboa, turistas deflagram
lâmpadas súbitas, que me fotografam.
Noite fechada, na praça acordada
por estas e outras luzes sempre fixas,
um homem perora contra a estátua equestre
como se nela visse a própria sombra.
A vida, a sombra? Perguntas funestas
que me perseguem sem que nunca se mudem.
Na praça funesta, só um veio d'água
desperta ruídos que vêm das ondas
do rio somente riscado por luzes
que avançam silentes da margem oposta.
Com fotografias fixo-me em ausências.
No cais lateral navios atracam.
Ruy Cinatti, Corpo Santo,
sel. e pref. de Manuel de Freitas,
Lisboa: Averno, 2014
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