Era um rapaz que não sabia soletrar a palavra jubiloso. Sentia-se excluído de todas as praças onde as luzes iluminam e os sorrisos jogam lotos inocentes.
Não perguntem por razões a um sentimento como este. Causas e motivos são formas às quais se não molda o difícil e mudável coração de um rapaz triste, mal versado em amores e descrente das páginas abertas no capítulo dos sonhos.
Era um rapaz viciado na melancolia. Ansiava sempre por regressar aos lugares do bem ausente e aos lugares do mal passado. O futuro não tinha para ele qualquer conotação afectiva: era um posto vazio e sem calor, uma antecâmara do inferno, sala de espera forrada a inox e após a qual nada havia que se pudesse conceber. E o presente, esse, era um confuso aluvião de sentimentos, recordações e penas.
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José Miguel Silva, "Um rapaz novo"
in Telhados de Vidro n.º 3,
Lisboa: Averno, Novembro de 2004
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