A ILHA
para a Ângela
A ilha era deserta e o mar com medo
de tanta solidão já te sonhava:
ia em vento chamar-te para longe
e longamente em espuma te esperava.
À cinza dos rochedos atirava
na grande madrugada adormecida,
já saudosos de ti, os braços de água,
sem ter acontecido a tua vida.
Sim, meu amor, antes de Zarco vir
provar o sumo e o travo à solidão,
no litoral de pedra pressentida
o mar imaginava esta canção.
E as lúcidas gaivotas desse tempo
talhavam com um voo o teu amor:
o início de lava e sal que deixa
(talvez) neste poema algum esplendor (1).
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(1) A ilha hoje é um paraíso inglês
de orquídeas e renques orvalhados:
mister X e a cana do açúcar
mister Y, bancos, luz, bordados.
Ó Cesário, pudesses tu voltar
e deste cais onde não há varinas
ver os garotos na água a implorar
(sir, one penny) o oiro das neblinas.
CARLOS DE OLIVEIRA
[ID | S. Martinho, 12/019]
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