DEPOIS DE VOLTAR DE UMA VIAGEM DE EXPLORAÇÃO
Na almofada a cabeça sonolenta de John Mateer
é um aquário às voltas com água veneziana
e naquele galeão, aquele brinquedo luminoso,
ele está ao leme, de telescópio no olho,
jurando que não consegue ver a Austrália.
E quando a sua caravela desliza Tejo adentro,
tão colocada e cerebral como um cisne negro,
ele pede um copo de porto e um pastel de nata,
depois recolhe ao quarto num calmo hotel de Alfama,
e sonha o sonho:
que um dia haverá um poeta
chamado John Mateer, tal como houve uma vez,
para além dos limites dos mapas, um monstro
chamado Austrália.
John Mateer, Namban,
trad. Andreia Sarabando, Coimbra: Medula, 2014
*
What a shock it is to discover the world is round and the areas merge and nothing separates the monsters and ourselves; that we are all whirling around in space together and there isn't even a graceful way of falling off.
Margaret Millar, Beyond This Point Are Monsters, 1970
[O título do livro vem de uma inscrição num mapa medieval.]
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