quinta-feira, 2 de outubro de 2014

T de Teacher Was Here


     Desde que sei escrever, medi os anos a partir de Setembro, quando fazia anos e regressava às aulas. Era um mês com cheiro a praias batidas, velas apagadas, mas livros e sonhos intocados. 
     Depois houve um ano em que regressei às aulas como professora. Lembro-me até do momento exacto em que percebi que me apaixonara por esses novos setembros: sei ainda de cor os quase trinta rostos sentados à minha frente a tentar adivinhar o verso seguinte de uma cantiga de amigo, o sorriso deles a abrir-se, o meu a tentar não dar nas vistas. 
     Fui professora em escolas públicas durante quinze anos, anos esses que conto pelo nome das escolas por onde passei. Regressei tantas vezes a casa exausta, impotente perante a carga burocrática; ou as decisões superiores sem olhos e razão no terreno; e sobretudo a dimensão dos problemas das centenas de alunos que nem sempre conseguíamos ajudar. Mas também sei que regressei tão mais vezes a casa de coração cheio. Há coisas que fazemos – e há coisas que fazem de nós aquilo que somos. É disso que falo aqui.

     Este ano decidi tentar mudar de vida. Deixar de esperar por resultados de concursos podres, de ter de aplicar políticas podres, de ser tratada como provisória, residual, incapaz até prova (incapaz) em contrário. Vou enviar currículos, responder a anúncios, procurar traduções e revisões.
     O que não significa que deixe de ser professora; pelo contrário, desejo sinceramente encontrar projectos dignos, que me devolvam algum do idealismo que tive de sacrificar por conta deste outrem. Gostaria que os meus alunos continuassem a aprender a não se resignar ao habitual, ao normalizado e avaliado por exames, ao que nos é simplesmente imposto. Que percebessem que esta é também a minha maneira de lhes explicar que todos temos o direito e o dever de nos reconstruirmos a nós próprios para nos conseguirmos reconstruir em sociedade. Que soubessem – eles e os colegas com quem fui aprendendo – como lhes agradeço, para já, por tudo.



4 comentários:

Odracir disse...

Boa Nova Vida!

ID disse...

Vamos ver o que ela me traz :)

Odracir disse...

:) (Y)

Anónimo disse...

Beijinho.
Vítor