O SEGREDO
[Jardim Amália Rodrigues, 1961]
Vão alguns em busca de beleza, dizem.
HERBERTO HELDER
Os meus dedos já souberam
de cor a perfeição.
A morte era o menos.
Só a beleza nos parecia intolerável
se não a despedaçássemos,
voz por voz, compasso a compasso,
numa harmonia mais dócil. Menos urgente
do que os músculos que ensaiávamos
todos os dias sem nos tocarmos.
Agora ouço outras mãos
a tactear o mesmo mistério e
é como segredar, pianississimo,
ao ouvido de alguém demasiado longe,
quando afinal adormeceste apenas
dentro de mim, com as garras
cravadas ao de leve na memória,
Inês Dias, Da Capo,
Lisboa: Averno, 2014
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