sexta-feira, 28 de junho de 2013

S de Solidão (ou C de Comunidade) LVI


TECENDO A MANHÃ



Um galo sòzinho não tece uma manhã:
êle precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2.


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no tôldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, tôldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.



João Cabral de Melo Neto

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