PEQUENOS CRIMES ENTRE AMIGOS
Se um dia me pedires,
juro que te empresto
o meu coração, tal como
guardei na boca o pequeno deus
que te trazia tão curioso.
A sério. Deixo-te tocar nele,
sentir-lhe o peso, atirá-lo
contra a parede para depois
o apanhares e retirares a pele
de pêssego demasiado maduro.
Podes até queimá-lo -
com cuidado, por favor -
quando estiver mais frio;
ou enterrar os restos debaixo
das estrelícias, de propósito
por saberes que não as suporto.
Em troca, promete-me apenas
que depois me deixas fugir
para saber como é isso de
passar o resto da vida desembaraçada
finalmente desse peso morto.
Inês Dias, Da Capo,
Lisboa: Averno, 2014
[Detalhe de Francisco Zurbarán / 1655]
1 comentário:
Sem palavras!...
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