"No dia 5 de Maio de 1938, Antonia oferece a Dino um maço de fotografias acompanhadas de um bilhete que então pareceu enigmático ao destinatário:
Caro Dino,
No outro dia disseste que nas fotografias se vê a minha alma: e agora aqui as tens. Porque o único irmão da minha alma és tu e todas as coisas que me têm sido mais caras quero deixar-tas em herança, agora que a minha alma se encaminha por uma estrada onde é preciso que se embacie, se mascare, se ampute. Aqui encontrarás tantas coisas que já conheces: detrás de cada uma escrevi um título ou palavras com pouco sentido, que no entanto compreenderás. Conserva-as para recordação minha, para recordação do nosso encontro, que tem sido bom e belo e me deu tanta alegria no meio da dor. Caro, caro Dino, que tu ao menos possas moldar a tua vida como eu sonhava que fosse a minha: toda nutrida de dentro e sem escravidão. Em cada uma destas imagens vês repetido este desejo, esta certeza.
Abraço-te.
Antonia."
in Antonia Pozzi, Morte de Uma Estação,
pref. de José Carlos Soares,
Lisboa: Averno, 13 de Fevereiro de 2012
(dia em que a autora cumpriria 100 anos)
2 comentários:
<3
Lindo demais!!!
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