domingo, 21 de fevereiro de 2016

P de (Po)ética (LVII)


"Por conseguinte, ao fazer a introdução a um discurso sobre as 'coisas mínimas' e sem história, não sabemos resistir à tentação de cobrir os nossos ombros com um recurso à história, pedindo emprestadas as palavras de quem considerou ser digno discorrer sobre 'as humildes e baixas matérias': 'É de tamanho vilipêndio a mentira que - escrevia Leonardo -, mesmo quando diz bem de coisas de Deus, retira graça à sua divindade, e é de tamanha excelência a verdade que, mesmo quando louva as coisas mínimas, estas se tornam nobres; e tem a verdade em si tamanha excelência que, ainda que se aplique às humildes e baixas matérias, excede sem comparação as incertezas e as mentiras aplicadas aos grandiosos e altíssimos discursos... Mas tu, que vives de sonhos, agradam-te mais as razões sofísticas e os logros dos embusteiros sobre as coisas grandes e incertas, do que as certas e naturais e não tão elevadas.'"


- Leonardo da Vinci citado por Umberto Eco
in Apocalípticos e Integrados,
 Lisboa, Relógio D'Água, 2015

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